Pesquisar este blog

Total de visualizações de página

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Bin Laden e o Imperialismo Americano

O papel americano de policial do mundo acaba de afetar a América de forma direta. Foi a América que despejou vultosos recursos no movimento contra-revolucionário do Afeganistão em 1979, numa época em que as jovens ainda podiam freqüentar escolas, e as mulheres tinham acesso ao trabalho fora do lar. O imperialismo americano é diretamente responsável pela reação talibã (a) no Afeganistão. Osama Bin Laden e seus milicianos eram armados e treinados pela CIA e o M16 britânico, em colaboração com o InterServices Intelligence (ISI) (b), do Paquistão, a fim de derrubar o governo pró-moscovita de Cabul.

Durante os últimos 21 anos temos assistido ao brutal massacre de homens, mulheres e crianças no Afeganistão. Agora, o Afeganistão faminto, devastado pela guerra e pela seca, está enfrentando uma situação verdadeiramente terrível. As sanções impostas pelos americanos têm enormemente intensificado as aflições e a miséria, e as condições que se deterioraram acrescentam a tal estado de coisas uma dimensão trágica. A fome generalizada e a subnutrição são agravadas pelas continuadas guerras por procuração, em que potências estrangeiras disputam o domínio da Ásia Central e de suas vastas riquezas petrolíferas, e onde o Afeganistão ocupa posição estratégica como possível rota de oleodutos.

Resultado: o Afeganistão tornou-se uma terra devastada. Quando os talibãs finalmente tomaram Cabul vingaram-se horrivelmente de seus inimigos: Najibullh, o ex-presidente, foi enforcado num posto de iluminação pública e em sua boca enfiaram seus órgãos genitais. Através de tais métodos, o Ocidente "civilizado" e seus agentes pagos alcançaram seus objetivos principais nessa terra infeliz.

Muita gente ficou chocada com as cenas midiáticas da tragédia que se desenrola no Afeganistão. O regime tem imposto um reino de terror, com a limpeza étnica em Bamyan e Mazar-e-Sharif; reprimiu etnias e membros de outras religiões; dinamitou estátuas de Buda, executou mulheres publicamente em Kandhar, adotou o chicote... Os gritos de horror das mulheres afegãs oprimidas ressoam pela Ásia.

A pergunta é: quem é responsável por esta guerra civil sanguinolenta, todas essas mortes, pela fome, pela limpeza étnica e cabal barbarismo? A resposta é muito simples: foi o imperialismo americano que reduziu o Afeganistão ao nível da Idade Média, destruindo completamente a civilização lá existente.
O papel do imperialismo americano no Afeganistão

O regime stalinista instalado pela ala de oficiais esquerdistas em 1978 executou uma série de reformas, inclusive a reforma agrária e medidas progressistas em relação às mulheres e à educação, numa tentativa de levar o Afeganistão para o século XX. Isto significou uma ameaça mortal não apenas aos interesses dos latifundiários, agiotas e dirigentes religiosos afegãos mas também à monarquia reacionária da Arábia saudita e a outros paises vizinhos. Por esta razão, e pela afinidade com Moscou, que de fato não desempenhara qualquer papel na revolução de 1978, o imperialismo estadunidense opôs-se implacavelmente ao novo regime de Cabul, o qual, embora de forma destorcida, representava uma revolução. É por esse motivo que o imperialismo americano deliberadamente armou, financiou e incitou a coalizão mais bárbara e reacionária contra a revolução afegã.

A CIA e seus aliados mobilizaram vastas somas de dinheiro e largo volume de armas em apoio da contra-revolução afegã. No Oriente Médio, a Fraternidade Muçulmana e a Liga Mundial Muçulmana sediada na Arábia Saudita, juntamente com o príncipe Turki al Faisal, chefe da inteligência militar saudita, associaram-se para levantar recursos enormes para a jihad - guerra santa. Eles se tornaram de importância fundamental para o recrutamento e o treinamento dos milicianos (mujahidins) fundamentalistas por todo o mundo árabe. O ISI e a Jamat-e-Islami do Paquistão estabeleceram comitês de recepção para dar as boas vindas aos jovens da classe média em dificuldade que se apresentavam como voluntários para a jihad O ISI criou centenas de campos e centros de treinamento militar. O general Hamid Gul, ex-diretor do ISI, afirmou a um jornalista, "Estamos combatendo numa jihad e esta é a primeira Brigada Internacional Islâmica da era moderna. Os comunistas têm sua Internacional, o ocidente tem a NATO, por que os muçulmanos não podem unir-se e formar uma frente comum?"

O ISI, sob a direção de seus mentores da CIA, há muito precisava do príncipe Turki al Faisal, chefe do serviço de inteligência saudita, para dirigir a parte operacional saudita, demonstrando aos contra-revolucionários - os milicianos - o compromisso da família real saudita para com o Islã e a jihad, contra o regime "comunista ateu" de Cabul.

Só entre 1980 e 1992, mais de 35.000 fundamentalistas islâmicos de 43 países juntaram-se aos milicianos afegãos. O Paquistão já dera instruções claras a todas suas embaixadas no estrangeiro para que concedessem vistos sem questionar a quem quer que desejasse engajar-se à luta no Afeganistão. Entre os milhares de recrutas estrangeiros, um deles era Osama Bin Laden.

Em 1986 Osana Bin Laden construiu o complexo de túneis que a CIA financiou como o maior depósito de armas, treinamento e instalações militares para os milicianos, nas remotas montanhas próximas às fronteiras do Paquistão. Bin Laden certa vez admitiu que para "conter a revolução no Afeganistão, o regime saudita escolheu-me como seu representante no Paquistão e no Afeganistão. Recrutei voluntários de muitos paises árabes e muçulmanos que atenderam ao meu apelo. Instalei campos onde oficiais paquistaneses, americanos e britânicos treinavam os voluntários. A América fornecia as armas; o dinheiro vinha dos sauditas."

Fato é que após 14 anos de sangrenta guerra civil os milicianos fundamentalistas finalmente tomaram Cabul. Mas também é certo que não conseguiram uma vitória militar. O governo de Cabul foi ao colapso porque Moscou retirou sua ajuda militar como parte de um compromisso com o imperialismo americano, enquanto o Paquistão e a Arábia Saudita continuaram com o auxílio militar aos milicianos.

Sem a traição da burocracia russa, os milicianos fundamentalistas nunca seriam capazes de ocupar Cabul e qualquer uma das principais cidades, que não puderam ocupar em 14 anos de combate. A queda de Cabul representou uma vitória para o fundamentalismo islâmico. O imperialismo americano despendeu bilhões de dólares e forneceu generosa ajuda militar aos milicianos a fim de derrubar o regime de Cabul. Contudo, mesmo depois de Moscou retirar suas tropas, as forças de Najibullah ainda conseguiram repelir todas as investidas dos milicianos.

Mas a retirada da ajuda colocou o regime numa posição difícil. A remoção de Najibullah através de um golpe planejado pela CIA e o ISI preparou o caminho para a captura de Cabul pelos milicianos fundamentalistas. O novo regime liquidou a maior parte das reformas progressistas do poder anterior. Mas o novo governo era muito instável desde sua formação. Imediatamente combates irromperam entre as forças do Hizbe-Islami, lideradas por Gulbadin Hikmatyar e o Jamaty-e-Islami de Ahmed Shah Masoud. Estes bandos rivais de contra-revolucionários engalfinharam-se ferozmente, de forma que em 1994, quando nenhum dos lados conseguira vitória decisiva sobre o outro, o campo estava aberto para a nova onda reação, ainda mais extremada, na forma do talibã.
O talibã

Os talibãs foram uma criação dos militares paquistaneses e de seu serviço de inteligência, com a ajuda efetiva da CIA. Foram recrutados nas escolas de estudantes islâmicos (madrassas) fumncionando no Paquistão, e financiados, armados e treinados pelo InterServices Intelligence - o ISI. O Mullah Omar emergiu como o principal líder do talibã com a ajuda do ISI em 1994 e, logo após, com a ajuda paquistanesa, os talibãs assumiram o controle das maiores cidades do Afeganistão. Primeiramente eles capturaram Kandhar, em seguida Herat, Cabul, Mazar Shareef e, por último, Bamyan. Mas nada disso teria sido possível sem a mais ativa participação de Islamabade e de Washington. Estima-se que os talibãs receberam cerca de 10 bilhões de dólares da América, que continuou a financiá-los até recentemente. Importância equivalente conseguiram do reacionário regime saudita.

O talibã penetrou no Afeganistão sob o lema da paz, mas logo seu slogan de paz se transformou na mais terrível opressão. Fecharam escolas - particularmente escolas femininas - e baniram o trabalho das mulheres fora do lar. Destruíram receptores de televisão, queimaram bibliotecas, saquearam museus históricos, proibiram toda uma série de desportos e determinaram que os homens deixassem crescer suas barbas. A fim de consolidarem seu domínio, encorajaram o cultivo da papoula, isto é, a produção de ópio e heroína - sua maior fonte de renda.

Até 1997, os americanos foram espectadores silenciosos no respeitante a assuntos de direitos humanos no Afeganistão. O imperialismo americano conduziu-se visivelmente cego e surdo ao tempo em que os talibãs escorraçavam as mulheres e crianças em Mazar-e-Sharif, e quando levaram a efeito maciças limpezas étnicas em Bamyan. Quando começaram sua aterrorizadora repressão contra as mulheres em Cabul, Herat e Khandhar, quando eles fecharam escolas, hospitais, proibiram músicas e jogos desportivos. O imperialismo americano não apenas permaneceu silencioso, mas continuou a apoiar o regime de Cabul.

Desde o início, os americanos apoiaram o talibã, perseguindo insolentemente seus próprios objetivos. Como de hábito, interesses econômicos estiveram em causa. Grandes empresas norte-americanas estão muito interessadas na construção de oleodutos dos paises da Ásia Central através do Afeganistão. Esta é a atitude condicionada pela América, relativamente ao regime talibã. A UNOCAL, gigantesca multinacional, chegou a um pacto com o talibã. Quando o talibã falhou na conquista de todo o país - especificamente da região norte - e não conseguiu derrotar a Aliança Norte (c), o projeto do oleoduto ingressou numa crise cada vez mais profunda. "Cego e surdo", o imperialismo americano subitamente tornou-se capaz de ouvir o pranto das mulheres afegãs e atentou para a repressão contra as massas.

No intuito de demonstrar sua "solidariedade" para com as populações afegãs oprimidas e subnutridas, Washington empreendeu um brutal ataque aéreo, lançando seu mísseis Cruise contra o Afeganistão, usando também seu instrumento, as "Nações Unidas", para impor sanções ao país. A imposição não tem efeito sobre os gângsteres, mas atinge os setores mais pobres, que lutam precisamente para se manterem vivos. Estes ataques e sanções têm servido meramente para fortalecer o talibã, justamente como o infame bloqueio do Iraque, onde as mesmas medidas têm causado mortes superiores a um milhão de iraquianos, porém falharam completamente em derrubar Sadam Hussein.
Osama Bin Laden

Osama Bin Laden desempenhou papel chave na guerra dos contra-revolucionários islâmicos contra o regime stalinista em Cabul, recebendo o apoio entusiástico da CIA. O ex-diretor deste órgão, William Casey, comentou o apoio a Bin Laden em seus escritos. Mas muitos cães acabam por dar meia-volta, e mordem seus donos. Depois que a União Soviética se retirou do Afeganistão, Bin Laden voltou sua atenção para a América, organizando o bombardeio das embaixadas estadunidenses no leste da África.

Da noite para o dia, o herói e corajoso "combatente da liberdade" da CIA, tornou-se o "inimigo da civilização". O que aconteceu entre estes dois anteriormente estreitos aliados, e que tipo de diferenças emergiu entre si? Quando estiveram envolvidos na derrocada do regime pró-Moscou do Afeganistão, Bin Laden era o favorito das classes dirigentes americanas e o fiel confidente da família real saudita. Agora, de repente, ele se transformou no maior criminoso e terrorista do mundo! Ele é realmente terrorista, criminoso e reacionário. Mas esta não é uma conclusão recente. Ele era o que é exatamente desde o início, ao lançar sua guerra assassina contra os trabalhadores e camponeses do Afeganistão, com integral apoio da América.

O que enraiveceu os americanos foi o fato de que, após o fim da guerra-fria, esses bandidos e gângsteres contra-revolucionários fugiram de seu controle. Não é o caso de o fundamentalismo ter mudado. Era o mesmo cão hidrófobo de antes - mas a trela escapara de seu pescoço! As diferenças com os americanos vieram a furo em 1991, quando o imperialismo americano atacou o Iraque e alguns desses fundamentalistas islâmicos, particularmente a organização Al Qaeda, opuseram-se à presença de tropas americanas na Arábia Saudita. Os mesmos fanáticos fundamentalistas que lutaram contra as tropas soviéticas, "estrangeiros num país muçulmano" (Afeganistão), agora voltavam-se contra os Estados Unidos, recorrendo à mesma lógica.

A presença de tropas americanas em solo árabe acelerou a polarização entre os fundamentalistas. As lideranças mercenárias de grupos fundamentalistas, controlados pela CIA, foram passivas no tocante à presença de tropas americanas, e assim rapidamente perderam o apoio popular. Daí emergindo as tendências fundamentalistas mais extremadas, escapando ao controle americano e de seus estados subservientes no mundo muçulmano.

Washington semeara vento e colhera tempestade. Usando fundos e armas que lhes foram doados pelos americanos e sauditas, os grupos fundamentalistas mais bem organizados como o Al Qaeda estabeleceream bases em vários paises islâmicos, tais como a Argélia, o Sudão, o Egito, o Iraque, a Turquia, o Tadjiquistão e a Caxemira. Em 23 de fevereiro de 1998, numa reunião realizada no campo de Khost - construído pela CIA - a Frente Islâmica Internacional lançou um manifesto, anunciando a jihad contra os Estados Unidos. A declaração afirmava que por mais de sete anos esta potência tinha ocupado terras do Islã na península arábica. Da reunião resultou um fatwa (decreto sagrado), afirmando que matar americanos era dever de todos os muçulmanos. O bombardeio das embaixadas na África era parte da guerra empreendida pelas forças acima mencionadas.

Compreendendo que tinham sido traídos pelo ex-aliado e seus auxiliares, a fúria dos imperialistas americanos não conheceu limites. Descarregaram suas frustrações sobre o indefeso povo afegão, primeiro bombardeando-o e, em seguida, impondo-lhe um cruel regime de sanções que tem implicado em fome e subnutrição para milhões de homens, mulheres e crianças já traumatizados por décadas de guerra. De acordo com as Nações Unidas, uns quatro milhões de pessoas podiam estar à beira da inanição no Afeganistão. E isso antes da presente crise. Osama, naturalmente, não foi atingido. Ele apenas se mudou do campo de Khost para abrigo seguro em Khandar, juntamente com seu "amigo espiritual", o dirigente talibã Mullah Omar.
O terrorismo reforça a reação

O recente ataque terrorista nos Estados Unidos introduziu um elemento inteiramente diverso na situação. O terrorismo é um método de luta reacionário, alheio à luta de classes. Marxistas e membros do movimento operário por toda parte condenam incondicionalmente o terrorismo - parta ele de indivíduos ou de estados. Os ataques terroristas bárbaros nos Estados Unidos certamente pavimentarão o caminho para mais reação, mais terrorismo num círculo infernal de ação e reação. No final das contas, fortalecerão as reacionárias classes dirigentes dos Estados Unidos, que acharão mais fácil implementar suas brutais políticas internacionalmente e também suas políticas domésticas contra a classe trabalhadora. O terrorismo de estado será a resposta ao terrorismo individual.

O terror sempre foi empregado pelas classes dominantes quando julgado necessário. Não há exceção. Bush já proclamou os eventos de 11 de setembro " ...não atos de terror, mas atos de guerra". Noutras palavras, ele tratará os ataques não como assunto para foguetes Cruise de alta precisão, mas como uma guerra declarada. Quem seria então o alvo desta guerra? Bush já respondeu: "Não faremos distinção entre os terroristas que cometeram estes atos e aqueles que abrigam seus autores". Isto quer dizer que a América considera atacar as bases militares dos paises que proporcionaram a Bin Laden e seus seguidores abrigo seguro": dessangrar o Afeganistão, na verdade, mas também possivelmente o Iraque, o Sudão, a Síria e o Irã, e talvez até mesmo o Paquistão, se este recusar-se a colaborar com seus planos agressivos.

Posto que Washington não tenha oferecido provas do envolvimento de Bin Laden na última atrocidade, não obstante ameaçaram atacar o Afeganistão. Tal ameaça provocou uma situação nova e caótica por toda a região. Após a declaração de guerra de fato ianque contra o Afeganistão, as Nações Unidas evacuaram todo seu pessoal, e membros estrangeiros das organizações não-governamentais chegaram ao aeroporto de Islamabade nos próximos vôos. Centenas de milhares de afegãos começaram a fugir de sua pátria em ondas, dirigindo-se às fronteiras com o Tadjiquistão, o Irã e o Paquistão. A maioria deles movem-se em direção ao Tadjiquistão e ao Irã, porque acreditam que numa guerra contra o Afeganistão o Paquistão também será atingido pelos Estados Unidos. Entretanto, a China fechou as fronteiras com o Paquistão e o Afeganistão. O pessoal da embaixada do Paquistão em Cabul foi evacuado. Os militares paquistaneses tornaram rígidas as medidas de segurança ao longo da fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão. Na mesma fronteira, a tensão entre forças armadas dos dois paises está aumentando a tal ponto que há a possibilidade de surgir luta entre si. No interior do Afeganistão, os preços dos gêneros de primeira necessidade, particularmente combustível, subiram até 50%, aumentando a miséria das populações. O preço da farinha de trigo, por exemplo, subiu de 80.000 Afeganis (moeda do Afeganistão) a medida de 7 kg. para 120.000 Afeganis.

Os talibãs aprestam suas forças, e observam de perto a situação regional. Este ano, paradas militares em Cabul têm revelado que os talibãs dispõem ainda de no mínimo 50 mísseis Stinger disparados do ombro. Eles também possuem um número desconhecido de tanques T-59 e 55 deixados pelos soviéticos.Contam com outros equipamentos, inclusive com artilharia de calibres 133 e 155, como também com mísseis 122 e 107. E também têm alguns helicópteros de combate e canhões antiaéreos 12,7 e 14,5 mm., afora apreciável número de mísseis antitanques. Alguns caças MIG e Sakori estão em seu poder.

Os imperialistas estadunidenses hesitam porque temem ser atraídos para um conflito que pode ter as mais sérias conseqüências para eles.
A situação no Paquistão

A situação no Paquistão é agora muito tensa, especialmente na fronteira nordeste e no Baluchistão. Todos os maiores aeroportos do Paquistão estão ocupados pelo exército, as embaixadas dos Estados Unidos e dos paises europeus encontram-se fortemente protegidas. Todos os empregados dos Estados Unidos e dos paises europeus no Paquistão foram evacuados, bem como os funcionários das multinacionais.

O regime militar - e especialmente o estamento militar paquistanês - divide-se no tocante ao provimento de suporte para as forças americanas e da NATO contra o Afeganistão. Em 15 de setembro, o Conselho de Segurança paquistanês e o gabinete federal anunciaram que o Paquistão ampliaria a cooperação com os Estados Unidos em caso de ataque ao Afeganistão. No mesmo dia, o secretário de segurança dos Estados Unidos Colin Powell confirmou que o Paquistão concordou com todas as condições impostas pelos Estados Unidos em conexão com as ações militares contra o estado vizinho. Estas condições determinam o fechamento da fronteira com o Afeganistão, a suspensão do fornecimento de suprimentos de combustível e a permissão para o uso do aeroporto e de instalações terrestres no Paquistão. Esta situação forçará o Paquistão a equilibrar-se precariamente entre dois fogos. Mas Islamabade não tinha escolha: negar cooperação aos Estados Unidos significaria possível ataque de forças militares americanas. Ou, no mínimo, seria alvo de ruinosas sanções econômicas, e o apoio americano à Índia quanto à questão da Caxemira.

Os Estados Unidos desconfiam que o Serviço de Inteligência Interna - ISI, do Paquistão, está por trás de grupos terroristas islâmicos, o qual não deseja comprometer-se. De outra forma, se o Paquistão apóia uma guerra contra o Afeganistão, haverá, então, maciça reação doméstica, que poderá até mesmo transformar-se em guerra civil, com a possibilidade de que setores fundamentalistas do sistema militar - estreitamente alinhado com o talibã - possa tomar o poder. á um poderoso elemento

Há um poderoso elemento no seio da organização paquistanesa de inteligência, o ISI, e o exército - cujo tamanho efetivo é muito difícil de avaliar - e cuja feição político-religiosa não difere de aspectos da jihad paquistanesa ou do talibã.

Esses grupos fundamentalistas paquistaneses, até o momento desfrutaram do apoio de parte do estamento militar. É claro que o Paquistão usou estes grupos fundamentalistas (que têm o mesmo comando central e estão ligados ao talibã) no conflito de Kargil com a Índia, entre maio e julho de 1999. A Harakat-ul-Ansar (HUA), fundamentalista, também "em guerra" com a América, matou americanos na Caxemira Agora, pretendem pôr tais grupos sob controle.

Existem cerca de 5.900 escolas religiosas fundamentalistas (madrassas) pelo país - mais ou menos 2.500 seminários operando no Punjabe, 80 só no Lahore. O ministério do interior verificou que a maioria destes seminários do Punjab estão afiliados à escola de pensamento Deobandi com fortes ligações políticas com o talibã. Para o Paquistão, o banimento do Laskar-e-Tayyba (LT), Harkat-ul-Mujahideen (HUM) e outros grupos fundamentalistas geraria conflito no seio exército. Um outro problema é que estas organizações fundamentalistas têm seus centros em áreas militares no Paquistão, a exemplo de Rawalpindi.

Sem nenhuma dúvida, a classe dominante paquistanesa agora está entre a cruz e a caldeirinha. Por um lado, os Estados Unidos estão exercendo impiedosa pressão. O diretor do ISI, general Mehmood Ahmed, que se sentiu bastante infeliz nos Estados Unidos, no dia 11 de setembro, experimentou instantes difíceis em Washington junto a Colin Powell e os chefes do Pentágono. Por outro lado, há a ameaça desses setores do sistema militar do Paquistão simpáticos ao fundamentalismo islâmico. São estreitamente ligados ao talibã. O ex-chefe do pessoal militar, Mirza Aslam Baig, fez uma veemente advertência a Musharaf: se ele permitir a presença de tropas americanas no Paquistão será uma catástrofe para toda a região como também para o próprio país. Espera-se que logo o general Musharaf visite à China, mas sabe-se que esta nação é muito cautelosa em relação às ações da NATO e às tropas americanas na região. O mais provável é que o general Musharaf receba fria acolhida em Pequim.

A perspectiva de guerra constitui um pesadelo para o Paquistão. O talibã já publicou uma declaração, segundo a qual se o Paquistão oferecer apoio à América contra o Afeganistão, ele declarará guerra. O talibã tem estacionado um apreciável número de mísseis Scud apontando para o Paquistão ao longo da linha Durand - linha que demarca o limite entre a Índia, outrora controlada pelo Reino Unido, e Afeganistão. O talibã, cria paquistanesa, agora se verifica ser uma faca de dois gumes - com o gume mais afiado voltado para o Paquistão. Tudo isto representa um prêmio para a política traiçoeira de décadas de apoio encoberto à reação fundamentalista no Afeganistão. Finalmente, o feitiço virou contra o feiticeiro.

O estado de coisas agora ameaçador será catastrófico para o Paquistão. Milhões de refugiados já estão vivendo no Paquistão, espalhados pelo país. Além disto, em ambos lados da linha Durand - a fronteira de 1.400 milhas com o Afeganistão - habita o mesmo povo, os patenes (d). Os efeitos do ataque dos Estados Unidos ao Afeganistão seriam muito perturbadores entre os patanes no Paquistão como também entre os refugiados afegãos. A questão nacional no Paquistão não está resolvida; é um potencial barril de pólvora.

Se o regime militar em Islamabade cooperar com as forças norte-americanas e a NATO, os patanes em ambos os lados da fronteira sofrerão mais do que qualquer outra etnia, o que desencadeará uma onda de ódio. Isto poderia resultar em revolta aberta contra o estado paquistanês, podendo espalhar-se entre outras nacionalidades. Registra-se severa repressão contra as oprimidas nacionalidades no Paquistão, particularmente no sul do Baluchistão. É até possível que a agressão americana no Afeganistão possa desencadear forças de tal porte que o Paquistão poderia começar a desintegrar-se. Seria um pesadelo para os trabalhadores e camponeses do Paquistão.

As massas ainda estão confusas e desorientadas, mas a oposição está aumentando contra o regime militar e os Estados Unidos. Espalha-se a hostilidade ao imperialismo americano no seio dos povos. Contudo, a liderança do PPP está caótica e Benazir Bhutto comprometeu-se em apoiar o regime. Por enquanto, os grupos fundamentalistas são responsáveis pela maior parte da confusão, aproveitando a disposição antiimperialista das massas. Nos mercados de Carachi de outras cidades paquistanesas, fotografias de Bin Laden são conspicuamente expostas como o "Grande Mujaheed" (combatente religioso), e o povo as está comprando. Todavia, uma vez a classe trabalhadora comece a lutar sob seus próprios lemas e bandeiras, tudo pode mudar. O confuso humor antiimperialista das massas pode facilmente transformar-se num movimento anti-regime, anticapitalista e antiimperialista. Mas para que isto aconteça, lideranças capazes tornam-se necessárias.
Uma aventura perigosa

O regime militar paquistanês demonstra crescentes sinais de desespero. Uma delegação dirigida por um dos chefes do ISI foi despachada de Islamabade a Khandahar a fim de interceder junto ao talibã para que entregue Osama Bin Laden aos americanos e assim afastar o conflito que o Paquistão tanto teme. O chefe do ISI comunicou às autoridades americanas que um prazo final de três dias devia ser concedido ao talibã para a entrega de Osama Bin Laden. Mas a iniciativa falhou miseravelmente.

O regime talibã claramente usou-a para ganhar tempo: repetidamente negando que ele tivesse qualquer envolvimento nos eventos de 11 de setembro. Era óbvio que o talibã não concordaria com qualquer condição para entregar Bin Laden. A única possibilidade para capitulação seria uma cisão, tornando-se um conflito aberto entre os líderes tallibãs em relação à exigência. Um conselho de ulemás foi convocado em Cabul para discussão do caso Osama, mas isto apenas significou mais uma tática dilatória, presumivelmente permitindo ao talibã retirar seu pessoal para fora da capital. Finalmente, Bush perdeu a paciência e mandou um incisivo ultimato. Este representou, de efeito, uma declaração de guerra.

Talvez mesmo agora pudesse surgir alguma outra iniciativa para evitar o conflito. No pântano traiçoeiro do Afeganistão e do Paquistão, quase tudo é possível, e tudo tem seu preço. A questão, porém, é saber se os Estados Unidos pagariam qualquer preço. A resposta curta é não. Washington, que colocou o talibã no poder, está agora decidido a expulsá-lo. Enquanto o talibãs controlarem a maior parte do Afeganistão, não discutirá qualquer barganha com o regime. Os preparativos para a guerra já começaram.

O Paquistão já iniciou o bloqueio de embarques de mercadorias para o Afeganistão ao suspender o tráfego comercial para ilhado vizinho. Informa-se que as 82ª e 101ª divisões aerotransportadas americanas, compreendendo quase a metade das forças de combate deste tipo à disposição do presidente Bush, já estão sendo levadas por via aérea para bases paquistanesas. O grosso destas forças se movimentará para o norte do Punjabe e ocupará posições próximas à cidade de Dara Ismil Khan.

Se os americanos começarem a guerra com o Afeganistão, enfrentarão muitas dificuldades. Como assinalou a revista Time, "uma vitória americana no Afeganistão rapidamente se transformaria numa derrota catastrófica se a guerra ali transformasse o Paquistão, com seus 145 milhões de habitantes e suas armas nucleares, num estado islâmico fundamentalista". A aventura afegã estará repleta de problemas. Para começo de conversa, é um pesadelo logístico, porque a infraestrutura do Afeganistão tem sido destruída numa guerra civil ininterrupta de 21 anos. Não há ferrovias nem rodovias dignas deste nome. Seria extremamente difícil se as forças americanos e da NATO tivessem de operar usando bases longínquas e fora do país.

O Afeganistão é uma terra montanhosa de barreiras naturais vastamente dispersas, e de forma alguma adequada a forças modernas providas de equipamentos de alta tecnologia como as dos Estados Unidos. E, de resto, ataques aéreos apenas não serão suficientes para a realização dos objetivos bélicos de Washington. O desalojamento do talibã provavelmente exigiria uma invasão terrestre que levasse à captura e ocupação de Cabul e de outras cidades principais. E ainda deixando a zona rural, por demais escarpada, onde as bases fundamentalistas estariam localizadas, fora do controle militar americano.

Desde a guerra do Vietnã, os Estados Unidos sempre hesitam no comprometimento de forças terrestres. É extremamente difícil para as forças americanas ganhar a guerra no Afeganistão. O mero controle de Cabul nunca proporcionou a qualquer ocupante o domínio do restante do país. O povo afegão é bem treinado nas táticas de guerrilha pela experiência dos últimos 21 anos. Diz-se que os Estados Unidos planejam instalar no poder Zahir Shah, ex-rei do Afeganistão, após a expulsão do talibã. Um diplomata afirmou, "Zhair Shah, diz-nos, torna-se igualmente necessário para que o Afeganistão permaneça um país unido e viável após os ataques ianques".Que idéia brilhante! Em seqüência à completa destruição do país, eles querem um rei ancião de 86 anos para formar um novo país - no topo de um cemitério.

Washington também está tentando apoiar-se na Aliança do Norte. A guerra entre o talibaã e a Aliança do Norte intensificou-se depois do assassinato do comandante Ahmed Shah Masood. Este foi seriamente ferido na tentativa de morte e faleceu em 13 de setembro. Era o ministro da defesa da frente unida governamental do Afeganistão, sediada em Badakhshah, sob a direção presidente do Burhanuddin Rabbani, que ainda é, por formalidade, reconhecido por todos os paises, à exceção do Paquistão, da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos (UAR). As forças da Aliança do Norte acusaram o ISI e o talibã pelo assassinato.

Em sua última entrevista antes do ataque, Masood assinalou corretamente que sem o Paquistão, "o talibã não pode durar seis meses". Na sua mais recente visita à Europa, onde discursou no Parlamento Europeu, reunido em Paris, Ahmed Shah Masood afirmou - também acertadamente - que "os militares do Paquistão e o ISI estão por trás do regime talibã". Ahmed Shah não deixou de advertir a América que a guerra desta feita não ficaria restrita ao Afeganistão.

A Aliança do Norte controla somente cinco por cento do Afeganistão - o restante está sob o controle do talibã. Em 11 de setembro, após os ataques terroristas nos Estados Unidos, a Aliança do Norte empregou lançadores de foguetes para disparar mísseis sobre Cabul. Intensos combates ocorrem na região norte. A Rússia tem concentrado tropas próximo da fronteira tadijique; o Irã também está aumentando suas tropas nas proximidades da fronteira afegã. A febre guerreira está alcançando seu pico por toda região.
Apelo à classe operária americana

O movimento operário condena o terrorismo individualista, não importando quem seja o responsável por ele. Mas uma coisa é bastante clara: o imperialismo estadunidense é responsável pelo talibã e pela reação afegã. Ele armou e financiou os fundamentalistas em sua luta contra o deformado estado proletário do Afeganistão. É inteiramente culpado pelo atual barbarismo no Afeganistão. Agora, sua própria criação voltou-se contra o poder dominante nos Estados Unidos. O talibã, aproveitando a ajuda americana, agora já não se revela títere confiável, e passa a desafiar seus senhores de outrora.

Os marxistas condenam o terror individualista, mas também condenam o terror de estado, cujos efeitos são até mais cruéis e completamente inumanos. As massas afegãs no presente enfrentam situação terrível. Após as sanções das Nações Unidas, que as levaram a uma miséria inaudita, agora estão ameaçadas por bombas e mísseis. Que é isto se não terrorismo da pior espécie? Todavia, acerca desta forma de terrorismo "oficial" as Nações Unidas, os grupos de direitos humanos, as organizações não-governamentais e os dirigentes reformistas da social-democracia silenciam. Isto vividamente demonstra a hipocrisia desses sacripantas, que não perdem oportunidade para expressar sua disposição de combater o terrorismo, apoiando, por outro lado, as ações terroristas do imperialismo americano no Iraque, no Afeganistão e em toda parte.

Na realidade a intenção do imperialismo americano que está fazendo guerra ao Afeganistão, não é combater o terrorismo mas assegurar seu domínio no mundo e intimidar as massas no Oriente Médio, na África, na Ásia e na América Latina. Suas escusas para atacar o Afeganistão é que este país abriga Bin Laden, mas foi incapaz de produzir um farrapo de evidência do que afirma. De outra forma, há bastante evidência de que o imperialismo americano tem apoiado, armado e financiado grupos terroristas por todo o mundo, inclusive no Afeganistão.

Quando o homem do povo americano diz que se opõe à brutalidade terrorista e ao barbarismo, podemos acreditar nele. Mas quando tal discurso é proferido por Bush e o poder dominante dos Estados Unidos, não podemos dar-lhes crédito. O ataque terrorista de 11 de setembro foi um evidente ato brutalidade, mas não se pode delegar a responsabilidade para cuidar desse crime às classes dirigentes americanas, que são culpadas de crimes bem maiores.

A primeira tarefa da classe trabalhadora americana é tentar compreender as reais causas da presente situação. As raízes do problema não estão distantes da América, não se encontram no Afeganistão mas dentro dos próprios Estados Unidos. A classe dominante na América, e do resto do chamado mundo civilizado, isto é, capitalista, é em última análise responsável pela criação do estado de coisas que produziu o horrível massacre. Através de suas ações, ela está preparando novas e mesmo piores barbáries.

Quando a classe operária americana recuperar-se do profundo choque causado pela catástrofe de 11 de setembro, começará a compreender a real natureza do problema que enfrenta em casa e lá fora, e começará a lutar contra sua própria classe dominante. Ela não será enganada toda vida pela máquina de propaganda do poder dominante americano. Uma vez a poderosa classe operária americana se ponha em ação, mudará a situação do mundo em geral.

Os inimigos da classe trabalhadora americana não são as oprimidas massas afegãs, que enfrentam terrível opressão sob o domínio tirânico do regime talibã, instalado pela CIA e seus fantoches. Seu real inimigo está em casa: é o conhecido imperialismo americano. Constitui uma tarefa histórica da classe trabalhadora americana romper com sua classe dominante, suas políticas cruéis e brutais e sua insensível hipocrisia. É necessário opor-se à agressão americana contra o Afeganistão, e lutar contra o sistema capitalista, causa verdadeira da guerra, da morte, do terrorismo, do racismo, da fome do desemprego e da exploração em escala global.

Existe apenas uma forma de pôr fim a essas guerras desastrosas, ao terrorismo e ao fundamentalismo: é a classe trabalhadora assumir o poder e realizar as transformações socialistas.

Nós, o povo trabalhador do Afeganistão e do Paquistão, condenaremos vigorosamente qualquer agressão do imperialismo americano e das forças da NATO nesta parte do mundo. Nós não apenas condenamos os ataques, mas também tudo faremos dentro de nossas possibilidades para mobilizar o proletariado sob a bandeira do trabalho e do movimento sindical, a fim de resistir à agressão imperialista e combater o capitalismo, o latifúndio, utilizando a crise do sistema para, afinal, levantar bem alto a bandeira do socialismo.

Fonte: www.marxist.com

Disponível em:http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/guerra-do-afeganistao/bin-laden-e-o-imperialismo-americano.php. Acesso em:09/09/2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário